28.9.06

Ainda a Feira de Artesanato do Estoril


Nunca fui muito apologista do trabalho “avulso” - ressalvando aqui o caso particular das encomendas – e estou em crer que esta participação na Feira de Artesanato do Estoril - 2006 encentuou esta forma de entender o trabalho do Atelier.

Houve críticas, sem dúvida construtivas, no sentido de que o pavilhão estava muito menos diversificado...
Se assim foi, o objectivo foi plenamente atingido.
Era de facto essa a intensão. Que houvesse coerência no trabalho mostrado, nem que isso fosse conseguido à custa da tal menor diversidade.

Acredito que pudesse estar menos atractivo, menos colorido até, no sentido mais lato da expressão, precisamente porque aquilo que era mostrado, fazia parte de linhas temáticas de produção bastante recente e como tal, agrupavam-se por temas, diversamente do que acontecera por exemplo no ano anterior, em que de facto havia vários exemplares “avulsos”, que poderiam ser encarados como fios condutores de projectos ou trabalhos futuros e que, pelas mais variadas razões, nunca se vieram a concretizar.

Não se trata, penso eu, de uma atitude snob, trata-se sim, no meu entender, de uma atitude que me parece a mais coerente até, porque a plenitude de uma ideia só se alcança após muito trabalho e muita experimentação. É aliás no aceitar de novos desafios que a experimentação se comprova e novos caminhos se abrem. Isto, obviamente não é algo que se consiga com a execução de um exemplar sobre isto e outro sobre aquilo num conjunto desconexo e sem sentido... apesar de diverso e colorido!?!

Pouco me interessa que um painel esteja bem conseguido se não tiver outras consequências do que a admiração de quem observa ou a sua venda imediata, por se apresentar como um objecto invulgar ou apetecível.

Reconheco, sem margem para dúvidas que uma mostra como a Feira de Artesanato do Estoril, é marcadamente comercial e que é como tal que deve ser encarada. Contudo, e já anteriormente defendi isso, esse pressuposto e pela parte que me toca, não legitima de forma alguma uma menor qualidade dos produtos expostos, quer em termos de concepção quer em termos de execução.

As novas linhas temáticas de produção apresentadas primavam pois por um cuidadoso trabalho de preparação, tendo sido antecedidas por diversos estudos preparatórios onde não houve lugar para facilitismos no que ao desenho diz respeito.
Essa atitude foi levado a tal ponto que a transposição final para mosaico constituiu um desafio maior.

15.9.06

Que paciência...

Foi uma experiência interessantíssima a participação na edição deste ano da Feira de Artesanato do Estoril. Trabalhar ao vivo para um público tão vasto e diversificado nos seus referentes culturais e proveniências geográficas, foi bastante estimulante.

Apraz-me registar que nuns casos como noutros, o trabalho mostrado foi maioritariamente apreciado pela positiva.

Não vou reproduzir aqui as considerações elogiosas e tampouco os comentários jocosos – porque também os houve – acerca das peças expostas ou daquelas que no decurso da feira foram sendo executadas, mas não posso deixar de realçar a transversalidade do comentário “Que paciência...”, emitido em múltiplas nuances linguísticas.

Opor como argumento, o enorme prazer extraído do facto de acompanhar todo o percurso de criação e execução de, por exemplo, um painel, desde os desenhos preliminares até ao acabamento final, passando por todas as fases intercalares que incluem também as hesitações, alterações e mudanças de rumo, foi esforço inglório.

Ao que parece, para a maioria dos observadores, a dita paciência é o segredo da “coisa”, até porque não foram poucos os que acrescentaram que se tivessem paciência, não desdenhariam arriscar a prática...

Posto isto e em jeito de conclusão, fácil é cair no pressuposto de que o mosaico é uma actividade que se destina primordialmente a portadores de elevados índices de… paciência!?!

Sem dúvida, um dado a reter...




Ainda no campo dos comentários, houve um outro bastante repetido – e na minha opinião, bem mais pertinente - realçando as afinidades entre a prática do mosaico e a feitura de um puzzle.

Para além do aspecto lúdico associado a ambas as actividades e à procura incessante da peça ideal para encaixar num dado espaço, que será talvez o traço de união entre as duas actividades, falta acrescentar que quando a peça ideal não surge, é preciso fazê-la!

No puzzle, o desenho é dado e as peças já existem todas em stock... No mosaico, o desenho tem que ser feito e as peças cortadas/talhadas para que justapostas permitam que o mosaico executado fique em conformidade com o desenho que lhe serviu de ponto de partida e orientação.

Estas serão então as diferenças – de pouca monta – entre as duas actividades, puzzle e mosaico.
Nada que a paciência não consiga ultrapassar...